sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ENXAQUECA - A SUPER DOR DE CABEÇA

Um simpósio internacional realizado em São Paulo apresenta as últimas novidades no tratamento dessa "martelante" modalidade de dor.



Os neurologistas já conseguiram descrever até hoje quase 200 tipos de dores de cabeça. O mais comum é a cefaléia tensional-episódica, aquela dorzinha de cabeça que todo mundo tem de vez em quando e se combate por conta própria com analgésicos OTC. Dizem que a pior de todas as dores de cabeça é a chamada cefaléia em salvas. Mas a enxaqueca, que é apenas um desses 200 tipos, é sem dúvida a mais chata e mais desagradável. Ela se anuncia com a sensação de se estar vendo pontos brilhantes, como se fossem vaga-lumes. Costuma acompanhar suas vítimas anos a fio, e tem sintomas bastante característicos, como intolerância à luz, ao barulho e cheiros, enjôos, mal-estar geral, além da dor de cabeça propriamente dita, geralmente do tipo latejante, que pode afligir apenas um lado da cabeça ou passar de um lado para outro.


Todos os sentidos ficam exacerbados durante uma crise de enxaqueca – que pode durar até três dias – e tudo o que o paciente quer, nesse período, é ficar num lugar escuro e quieto. Ao fim de uma crise, o paciente sente-se como que de ressaca, apresentando, por mais um dia, tolerância limitada para atividade física e mental. É, sem dúvida, um tipo de doe de cabeça que ainda desafia a medicina.


Um de seus mistérios: a enxaqueca é francamente “feminista” - manifesta-se muito mais nas mulheres (80%) do que nos homens (20%). Para o neurologista Mario Peres, que coordenou o simpósio internacional "Novos Avanços no Tratamento da Cefaléia", recém-realizado em São Paulo, essa predileção da enxaqueca pela mulher tem várias causas. “Isso ocorre não só pelos componentes hormonais e comportamentais da doença, mas porque a mulher vem cada vez mais se inserindo no mercado de trabalho, sofrendo também com o ambiente de stress”. E, segundo o dr. Mario Peres, fatores compor­ta­mentais, principalmente os ligados à ansiedade e depressão interferem de maneira significante nas cefaléias.


VAMOS TIRAR ISSO DA CABEÇA


Como define o coordenador do simpósio, a enxaqueca é uma doença crônica que geralmente acompanha suas vítimas por toda a vida. Há na doença, com certeza, um componente genético que torna determinadas pessoas “condenadas” à enxaqueca. Mas isso não significa que os enxaquecosos estejam condenados permanentemente à dor. Segundo os especialistas, o tratamento nem sempre é fácil, mas enxaqueca pode ser evitada, administrada e, eventualmente, curada. Primeiro, é preciso conhecer o mecanismo da doença – e os gatilhos que a desencadeiam.


O cérebro do portador de enxaqueca recebeu uma herança genética que condiciona, sob determinados estímulos, o aparecimento de uma descarga anormal de noradrenalina, neurotransmissor responsável pela liberação de substâncias inflamatórias que causam a dor. A noradrenalina promove o aparecimento de substâncias inflamatórias nas artérias do couro cabeludo - na verdade, o que dói na enxaqueca são essas artérias. A maior parte dos enxaquecosos “de carteirinha” pressente exatamente quando uma crise daquelas vai se instalar. Pessoas com uma longa história de crises de enxaqueca conhecem muito bem os gatilhos que desencadeiam uma crise dolorosa. Fatores como a já citada tensão emocional, menstruação, certos alimentos, álcool, dormir a mais ou a menos, claridade, barulho, gripes, estados febris em geral, alterações na temperatura ambiente, leitura ou TV em excesso, jejum prolongado, café, cigarros, remédios podem desencadear uma crise de enxaqueca num indivíduo predisposto. Conhecendo esses fatores, ou pelo menos associando crises à ocorrência de um deles, o paciente pode colaborar para o êxito de seu tratamento. Para isso, muitos neurologistas defendem que o paciente mantenha uma espécie de diário, relatando tudo o que fazem em seu cotidiano e, paralelamente, registrando suas crises e sintomas. Com isso, o especialista pode determinar a associação de fatores – como um alimento determinado ou uma atividade específica – com o aparecimento da enxaqueca. Evitar esses gatilhos é, portanto, um primeiro passo para pelo menos retardar ou amenizar as crises. Mas o tratamento medicamentoso é, sem dúvida, o grande desafio a seguir.


UM REMÉDIO PARA CADA CASO


Na realidade, o enxaquecoso tem várias possibilidades de tratamento. O ideal é que procure um médico tão logo as crises comecem a ser regulares e comecem a afetar sua vida cotidiana. Quanto mais longa for a história da enxaqueca, menos a possibilidade de cura. Para começo de conversa, que tipo de médico deve atender uma vítima crônica de enxaqueca? Diz o dr. Mario Peres: “O neurologista com estudo na área de cefaléias é o profissional mais adequado para esse tratamento. No entanto, com raríssimas exceções, não-neurologistas podem fazer um bom trabalho”. Se um paciente ainda “virgem” de tratamento procura esse especialista relatando que tem uma ou duas crises não muito fortes nem muito prolongadas de dor de cabeça por mês, provavelmente o médico, num primeiro momento, vai receitar analgésicos para amainar a dor e o desconforto das crises. Mas numa segunda etapa do tratamento, o indicado é introduzir medicamentos preventivos que atuem diretamente sobre os neurotransmissores, pois em sua produção pode estar ocorrendo um erro para mais ou para menos.


Antidepressivos, por exemplo, produzem aumento nos níveis de serotonina, o que ajuda a diminuir a freqüência e a intensidade das crises. A eventual cura da enxaqueca, porém, está ligada à terceira fase do tratamento, que visa ao combate de todos os sinais e sintomas que acompanham a dor de cabeça – como noites maldormidas, problemas gástricos, intolerâncias alimentares ou a cheiros, etc.


NOVOS TRATAMENTOS


Mas o tratamento medica­men­toso das enxaquecas e das cefaléias em geral não pára de evoluir. “Uma das mais promissoras possibilidades terapêuticas é o uso de anticonvulsivantes como o topiramato”, disse o médico Stephen Silberstein, presidente da Sociedade Americana de Cefaléia e diretor do Jefferson Headache


Center, da Filadélfia, EUA, convidado de honra do simpósio. Ele apresentou em São Paulo os resultados de uma pesquisa clínica recém-concluída com a droga que envolveu mais de um milhão de pacientes com enxaqueca. Metade deles apresentou melhora, contra um quarto dos que receberam placebo. A nova aplicação do topiramato já foi submetida à aprovação do FDA, agência que regula medicamentos nos EUA, o que não impede que especialistas em cefaléia já utilizem a substância na prevenção da doença. Segundo o dr. Mario Peres, a grande novidade dos últimos anos é mesmo o uso de anticonvulsivantes, remédios contra epilepsia, que são excelentes para o tratamento preventivo da enxaqueca e outros tipos de cefaléias. “O topiramato, além de prevenir a enxaqueca, apresenta a vantagem de induzir também a perda de peso”.


S.O.S. DOR DE CABEÇA:


QUANDO PROCURAR MÉDICO IMEDIATAMENTE?

O Dr. Alexandre Feldman, médico paulista especializado no tratamento da dor e membro da American Headache Society, alem de autor dos livros Enxaqueca – Alívio para o sofrimento e Enxaqueca - Finalmente uma Saída, afirma que os seguintes sinais devem acender o sinal de alerta:






-Quando a dor for muito forte, acompanhada de enrijecimento da nuca
-Quando a dor vier subitamente e/ou durar mais de um dia (e você não vem tendo dores de cabeça)
-Quando você tiver uma dor de cabeça diferente da usual
-Quando sua dor de cabeça habitual piora, ou torna-se mais prolongada que usualmente
-Quando a dor de cabeça vem acompanhada de febre
-Quando você apresenta distúrbios na fala (fala “pastosa”), visão embaçada, formigamentos, perdas de memória, ou dificuldades para andar ou movimentar-se
-Quando a dor ocorrer em seguida a uma batida na cabeça
-Quando você apresentar dor localizada (especialmente num dos olhos ou ouvidos)
-Quando a dor de cabeça acorda você à noite
-Se você apresenta convulsões e/ou perda de consciência concomitantemente à dor.



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